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Roma

  • Foto do escritor: Cultura e Café
    Cultura e Café
  • 7 de fev. de 2019
  • 3 min de leitura

As várias camadas de Roma.


Por Yara Barros

(Com spolier).


Dirigido por Alfonso Cuarón, prestigiado por Filhos da Esperança e Gravidade, o filme Roma descreve o cotidiano de uma família de classe média do México durante a década de 1970. De forma silenciosa o longa nos brinda com a presença constante de Cleodegaria Gutiérrez, tradicionalmente chamada de Cleo, empregada doméstica e babá de quatro crianças. Ao estilo “Que horas ela volta”, o filme transita entre o papel da empregada como protagonista da casa na qual trabalha, já que de forma quase imperceptível a rotina da família só tem andamento por conta de Cleo.


Com uma fotografia toda em preto e branco, também assinada por Cuarón, o longa aborta um forte posicionamento político e social. O preto e branco dialogam com o contraste social pelo qual os personagens passam. O México como pano de fundo da trama apresenta ao telespectador uma parte da guerra interna entre o governo e os grupos guerrilheiros estudantis de esquerda. Conforme a guerra fica mais intensa, as relações familiares dentro do lar da família de classe média se estreitam.


Logo aviso que o filme não é para aqueles que gostam de explosões, ação ou romance. Roma é um filme para aquele que tem um olhar mais atento e capita as problemáticas expostas, mesmo que de forma pouco visível.

Além da fotografia linda, o longa, mesmo tendo sua trama passada na década de 1970, disserta sobre questões ainda atuais, como: o abandono paterno, tanto por parte do doutor (chefe de Cleo e pai das quatro crianças), quanto por Fermin ( Jorge Antonio Guerrero), ex namorado de Cléo e pai do filho dela. Ambos os personagens masculinos abandonam seus filhos, designando assim, as mulheres a tomarem o protagonismo da trama como chefes de família, realidade ainda muito presente.


De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no censo escolar de 2011 cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Em um país com uma população com mais de 200 milhões de pessoas, ter o nome do pai na certidão ainda é um privilégio.


Outra problemática abordada é a questão da empregada doméstica, que por mais que durma em um quartinho fora da casa de sua patroa, Sofia (Marina de Tavira), Cleo faz parte da rotina da família desde manhã quando todos acordam até a hora que todos vão dormir. Sendo sempre a primeira a acordar e a última a dormir.


A protagonista representa milhares de trabalhadores que teoricamente fazem "parte da família", mas o único lugar reservados a eles é o quarto dos fundos. Isso mostram-se ainda mais claro quando Cleo vai dar a luz ao seu primeiro filho, que nasce morto. Ao chegar ao hospital a mãe de sua patroa não sabe nenhuma informação para passar à equipe médica, além do primeiro nome e sobrenome de sua empregada . Essa pequena cena reflete a realidade de muitos trabalhadores de países pouco desenvolvidos, principalmente países latino americanos, que fazem uso da mão de obra barata e da defasagem educacional do país para explorar a classe trabalhadora.


Roma é o nome do bairro no qual a trama se desenrola. Quantas Cléo's existem?


- Nome completo? - Cleodegaria Gutiérrez. - Segundo nome? - Não sei. - Qual a idade? - Não sei. - Dia de nascimento dela? - Não sei. - Qual sua relação com a paciente? - É minha empregada.

Roma, 2018.


 
 
 

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